Assombrações do Recife Velho

Olá. Como vão?

Sabe, eu nunca pus os pés no Nordeste, no máximo, conheço uma ou outra pessoa que já esteve lá ou veio de lá. Entretanto, tenho muita vontade de ir, muita mesmo. Não tanto por causa do belo litoral ensolarado, menos ainda do carnaval (argh), mas por causa de alguns aspectos interessantíssimos que me atraem demais - certos traços culturais e o passado. Sim, O PASSADO. Não consigo expressar muito bem essa sensação que tenho, mas eu simplesmente curto ler coisas do Brasil que remetem ao século 19 e início do século 20, sei lá, eu gosto rs. Provavelmente este é um aspecto romântico da minha personalidade (favor não confundir com amor), essa coisa do escape e de saudosismo. E há duas coisas que me levam ao Nordeste, à parte o fato de meu 2º autor favorito ser alagoano- a cultura interiorana, esse aspecto de religiosidade quase que medieval, as lindas festas juninas que eu acho uma graça (bem naquele clima do Auto da Compadecida rs); e o lado sombrio das antigas cidades nordestinas. O misticismo, a superstição, as assombrações.

E é por isso que na intermitência de hoje venho falar de um livro que trata bem disso e cuja leitura para mim foi um deleite - ASSOMBRAÇÕES DO RECIFE VELHO, de Gilberto Freyre, autor de Casa Grande & Senzala. Lançado em 1955, o livro trata dos mais famosos causos de assombrações que até hoje causam arrepios no pessoal que vive por aquelas bandas ( e até na gente! :p ), além de trazer muita informação interessante a respeito de outros assuntos, nunca fugindo, é claro, da temática principal.

Para dar um gostinho, reproduzo aqui um trecho do prefácio à 2ª edição do mesmo:

Este livro não pretende ser contribuição senão muito modesta para o estudo de um aspecto meio esquecido do passado recifense: aquele em que esse passado se apresenta tocado pelo sobrenatural. Pelo sobrenatural mais folclórico que erudito, sem exclusão, entretanto, do erudito. Mas sem que tenha sido preocupação do autor entrar no mérito, por assim dizer, de qualquer desses sobrenaturais, cuja presença, real ou suposta, apenas constata através de testemunhos, de experiências, de aventuras das chamadas psíquicas que teriam sido vividas por uns tantos recifenses em ambientes e em circunstâncias próprias do Recife.

(...)

Vários desses sobrados (os de Recife) ganharam fama de malassombrados (está escrito assim mesmo no livro). As assombrações no Recife não têm tido menor repercussão folclórica do que as célebres “revoluções libertárias”: a de 17, a de 24, a Praieira. Ao contrário: o folclore recifense talvez fale mais de assombrações do que de revoluções. Aos mistérios da vida e da morte o recifense tem sido quase sempre sensível, compreendendo-se que, no Recife, tenha se aguçado o que em Augusto dos Anjos foi angústia de poeta morbidamente preocupado com a morte; e que no Recife tenha se desenvolvido em Lula Cardoso Aires um pintor impregnado de vocações místicas. Menos famoso pelos seus xangôs que Salvador pelos seus candomblés ou Niterói pelas suas macumbas, o Recife não tem deixado de ser centro de encontro daquelas “forças místicas” que, segundo Peter McGregor e T. Stratton Smith, no seu recente The moon and two mountains. The myths, ritual and magic of Brazilian spiritism, publicado em Londres, estariam resultando numa espécie de neomisticismo brasileiro em que à mágica européia se viessem juntando as mágicas ameríndias (“o caboclo”) e negras (“o negro velho”).

Os prefácios são longos, mais extensos do que o próprio conteúdo do livro até rs, mas que são de uma riqueza impressionante. Vi citações interessantíssimas sobre história, livros e até sociologia e psicologia (ou parapsicologia), e se eu for detalhar aqui, o post não acaba nunca rsrs. Deixo a curiosidade com vocês ;)

Eu, particularmente, gosto de histórias de fantasmas. Prefiro assombrações flutuantes à zumbis e carnificina, a sutileza me interessa mais (isso vale para vampirismo também). De acordo com as definições do livro, posso dizer que sou mais fã do fantasma erudito, só que num lugar onde eu possa me situar melhor. Nada melhor que o próprio Brasil para isto.

Lembro que vi uma alusão a este livro em um outro (não lembro qual), e enquanto não encontrei, não sosseguei (mas isso faz uns meses já) rs. Baixei um PDF mesmo, não é difícil de encontrar, uma rápida pesquisa no Google resolve isso. Pretendo comprar uma ´´edição física´´ assim que puder, pois gostei demais. Ler o livro no silêncio da alta madrugada é um excelente programa, dá um medinho bom hauahaa :p

Não vou entrar em muitos detalhes para não prolongar muito o post e porque eu sou péssima para resenhar livros kkk, acabo falando mais do que deveria. Mas deixo aqui o conteúdo principal:

Alguns Casos

O Recife e o Nordeste

O Boca-de-Ouro

Um lobisomem doutor

Luzinhas misteriosas nos morros do Arraial

O barão de Escada, num lençol manchado de sangue

O mastro de navio da casa de Ponte d’Uchoa

No riacho da Prata

Uma rua inteira mal-assombrada

Rodar de carro

Assombração no rio

Doutores e assombrações, inclusive certa “mensagem” de Raul

Pompéia morto, para Martins Júnior, vivo

O Papa-Figo

Fantasma de menino feliz

O adolescente que assassinou a namorada

Um barão perseguido pelo diabo

A velha branca e o bode vermelho

O velho Suassuna pedindo missa?

O vulto do salão nobre

O negro velho que andava em fogo vivo

O pobre que ganhou no bicho graças a Nossa Senhora

Cemitério de carros

Outro lobisomem

Luís do Rego assombrado

O visconde encantado

Duas experiências de um psicólogo ilustre

O que conta a filha de outro psicóloga ilustre do Recife

Visita de amigo moribundo

Algumas Casas

O sobrado da Estrela

A casa da esquina do beco do Marisco

O sobrado da rua de São José

No sobrado mal-assombrado da rua de Santa Rita Velha

O sobrado das três mortes

Outra casa da rua Imperial

Outro sobrado de São José

A casa da Imbiribeira

O sobrado do pátio do Terço

A casa da rua de São João

O Santa Isabel do Recife: suas assombrações

Outros casos e outras casas

A famosa assombradíssima Cruz do Patrão

Além do apavorante Boca-de-Ouro e de muitos casos que me lembraram o filme Poltergeist, há também causos de aparições de santos, de uma mulher que morreu por conta do Santo Ofício e até algumas coisas um tanto engraçadas. Enfim, é uma leitura imperdível, de uma escrita super sofisticada e de uma riqueza de informações histórico-culturais encantadora.

Já tenho até um roteiro turístico básico em mente para quando eu tiver a oportunidade de conhecer Recife rs. Aliás, vi no Youtube um vídeo de um passeio noturno pela cidade que trata justamente desse assunto, eu adoraria poder conhecer.

E é isso, espero ter despertado em vocês o mesmo interesse despertado em mim e que me fez procurar este livro :)

Muito obrigada pela visita e boa leitura ♥

See ya.